Forma de viver, com condutas e objetivos definidos para buscar equilíbrio entre corpo, mente e espírito, em harmonia com as leis da natureza
Por Ana Karina Talarico
No mundo com tantas atribulações em que vivemos, a busca por qualidade de vida é algo cada vez mais constante entre as pessoas. Mudar hábitos, muitas vezes, é o primeiro passo para alcançar o equilíbrio entre corpo e mente. Praticar atividade física, yoga, meditação e ter uma alimentação equilibrada para muitos é a chave do sucesso. Nessa busca por uma vida mais regrada e leve é que muitas pessoas acabam buscando o ayurveda.
Para quem ainda não ouviu falar sobre isso, esse é um termo em sânscrito. “Ayur” significa Vida, e “Veda” significa Ciência. Portanto, ayurveda quer dizer “Ciência da Vida”. Com origem na Índia, seus primeiros registros datam mais de 5000 anos atrás. É o primeiro sistema de medicina que se tem notícias.
A nutricionista, terapeuta ayurveda e professora de Yoga Vanessa Mayer (@nessamayer) explica que esse estilo de vida ajuda a manter e promover a saúde do corpo e da mente, combater doenças e manter a vitalidade.
“No ayurveda a vida engloba muitos aspectos, o atman (a alma), a mente, o prana (a energia vital), os sentidos e o corpo, e entendemos que tudo está conectado. Portanto, há saúde quando há harmonia em todos os aspectos. Harmonia interior e exterior. Para o ayurveda, saúde não é a mera ausência de doença, mas um estado de bem-estar físico, mental e emocional. Um equilíbrio entre os doshas dentro de nós”, frisa.
Doshas são forças vitais da natureza.
“Para entendê-los é preciso ter em mente que nós somos parte da natureza, e, por isso, tudo que nela acontece reflete em nós. O ayurveda tem como base os cinco elementos: éter (ou espaço), ar, fogo, água e terra. Eles formam os doshas, que são vata, pitta e kapha, nosso corpo e tudo que se manifesta de modo material, na natureza e no universo. Vata é a combinação de ar e éter. Pitta é a combinação de fogo e água. E Kapha é a combinação de água e terra. Todos nós temos os três doshas em nossa constituição de maneira única, não existe uma pessoa igual à outra. Quando um elemento se sobrepõe ao outro, temos um desequilíbrio, que pode evoluir para uma doença. A função do dosha, portanto, é manter esse equilíbrio entre os elementos dentro do corpo”, explica.
Os atributos
Essa medicina milenar estimula o autocuidado, pois acredita na prevenção de doenças e ensina que cada pessoa é capaz de entender a constituição de seu corpo e o que é benéfico ou não para ele em qual momento ao observar o que ele apresenta de atributos no dia a dia ou durante alguma afecção de saúde.
“Os atributos são características que os doshas manifestam de acordo com seus elementos. Por exemplo, vata não é o ar, nem o espaço, mas aumenta o ar e/ou o espaço do nosso corpo quando em desequilíbrio. O mesmo vale para pitta e seus elementos, e kapha e seus elementos. Os atributos de vata são: móvel, seco, frio, leve, áspero e irregular, agitado. Pitta é quente, um pouco oleoso, leve, fluido, líquido, penetrante e móvel. Kapha é pesado, frio, oleoso, denso, lento, suave e estável”, detalha.
De acordo com a terapeuta, o ayurveda trabalha avaliando esses atributos na constituição física e metabólica da pessoa, assim como nos alimentos, estações do ano, padrões de pensamento, históricos de doença e tudo mais que envolva a saúde do indivíduo. Ele é indicado para qualquer pessoa que queira aprender a viver mais em harmonia com os ciclos da natureza, como o ciclo circadiano e seu próprio organismo.
“Essa filosofia de vida é pra quem quer ter mais saúde, vitalidade e longevidade, através da sua rotina, alimentação e estilo de vida”, finaliza Vanessa.
Alimentação
A também nutricionista e terapeuta nutricional e ayurveda, Nathalia Ozio (@anutri.ayurveda), afirma que nesta filosofia a saúde é um estado de completude.
“A alimentação é um dos pilares primordiais para alcançarmos esse equilíbrio, mas não é o único. Ayurveda é mais que alimentação, pois considera, absolutamente, tudo que o ser humano tem contato através dos órgãos dos sentidos”, detalha.
Nathalia explica que a alimentação ayurvédica deve ser natural e fresca.
“A premissa do ayurveda são os alimentos naturais. Não é recomendado o consumo de alimentos industrializados, ou que foram preparados a mais tempo, mesmo que fiquem na geladeira ou congelados, pois esses alimentos não contêm prana, que é energia vital, deixando de ser nutridores. Outro ponto é que a alimentação deve ser feita levando em consideração o clima, a estação e a temperatura do local onde a pessoa está. Além disso, o que está se sentindo no dia do preparo também deve ser levado em conta”.
Nathalia destaca que as especiarias também têm um papel muito importante na culinária e nas terapias de forma geral, pois possuem propriedades terapêuticas e medicinais capazes de facilitar a digestão e provocar diferentes sensações no corpo e na mente. Ela cita que no ayurveda nada é bom para todo mundo, tudo depende.
“Cada indivíduo deve observar o que faz bem ou mal para ele, ou seja, quais alimentos ele digere melhor, deixando de ingerir os que causam desconfortos. Às vezes um alimento que se diz ser ‘saudável’ para a maioria das pessoas, pode não te fazer bem, pois sua digestão não está boa. A auto-observação e autoconhecimento é essencial para sabermos o que faz bem ou mal para nosso corpo. Somos seres diferentes, e temos necessidades diferentes. Além da individualidade de cada um, ainda temos as mudanças que ocorrem a cada dia, pois não somos iguais todos os dias, então precisamos de alimentos diferentes também”, complementa
Nathalia ainda explica que quem quer seguir uma dieta baseada nos princípios do ayurveda deve observar a digestão. Segundo ela, perceber quais alimentos não causam alteração gastrointestinais, como azia, gases, distensão abdominal, refluxo, dores é o primeiro passo.
Quem procura o consultório da nutricionista passa por uma avaliação completa para se chegar a um diagnóstico ayurvédico, ou seja, aos desequilíbrios ou desarmonias existentes.
“É avaliada a presença de AMA (toxinas) e o nível de intoxicação do organismo. A partir disso, a conduta é prescrita, promovendo mudanças na rotina, alimentação e estilo de vida de forma geral”, destaca a especialista.
Desenvolva sua rotina
A especialista ainda deixa algumas dicas para uma boa digestão e alimentação saudável retiradas do Charaka Samhita, principal livro do ayurveda:
1. Os alimentos devem estar quentes;
2. A comida deve ser untuosa (oleosa);
3. A comida deve ser ingerida na quantidade adequada para cada pessoa (nem a mais, nem a menos);
4. Deve-se apenas se alimentar quando a refeição anterior tiver sido digerida (ou seja, apenas coma quando sentir fome real/fisiológica);
5. Deve-se evitar alimentos que os componentes possuem propriedades antagônicas: no ayurveda chamamos isso de viruddahara.
6. Deve-se alimentar-se em local agradável, com todos os utensílios adequados;
7. Não se deve alimentar-se muito rápido;
8. Não se deve alimentar-se muito devagar;
9. Deve-se alimentar-se de forma concentrada;
10. Deve-se investigar se aquela dieta e comida estão adequadas.
Depoimento - Uma vida mais equilibrada através do ayurveda
“Aprendi me atentar mais ao que acontece ao meu redor; no meio ambiente e em como isso pode afetar meus sentimentos, minhas emoções”
A estudante Silma Schaeffer Knewtson, de 40 anos, teve o primeiro contato com o ayurveda em abril do ano passado e em junho começou a fazer acompanhamento profissional.
“Fiquei surpresa ao responder o questionário da minha primeira consulta ayurvédica. Existiam perguntas sobre mim mesma que eu não sabia responder, não prestava atenção suficiente aos sinais que o meu corpo apresentava, embora achasse que eu era uma pessoa que me cuidava”, conta.
Desde então ela tem aplicado os conceitos dessa medicina milenar em sua rotina diária.
“Eu pude constatar que seus ensinamentos me conduziam a uma vida mais equilibrada, com muito mais vitalidade e uma maior sensação de bem-estar. Me sinto profundamente conectada a essa filosofia, parte de seus ensinamentos me remetem a alguns dos ensinamentos dos meus antepassados e eu percebo na prática o quanto ela tem beneficiado a minha vida”, ressalta.
Uma das coisas que fascina a estudante no ayurveda é como uma mudança de um hábito aparentemente “simples” pode impactar imensamente na qualidade de vida.
“A sua forma de abordagem trata cada um exatamente como ele é, um ser único. Isso é tão simples e ao mesmo tempo tão complexo porque nos convida a voltar nossa atenção para nós mesmos”, destaca.
Silma afirma que com a mudança de hábitos passou a conectar-se consigo mesma.
“Comecei a observar mais o que acontece dentro de mim, me reencontrei novamente com aquela criança, adolescente curiosa que prestava atenção a cada mudança que acontecia ao seu corpo e ficava refletindo sobre os porquês. Me fez voltar a contemplar a natureza no meu cotidiano, aprendi me atentar mais ao que acontece ao meu redor; no meio ambiente e em como isso pode afetar meus sentimentos, minhas emoções”, frisa.
Para ela, essa experiência a fez entender a importância da auto-observação e autocuidado diário.
“Me trouxe mais discernimento nas minhas escolhas de acordo com a forma que me sinto e de acordo com o que funciona melhor para mim; individualmente. Isso me permitiu e me permite uma maior autonomia sobre a minha saúde como um todo; física, mental e espiritual”, finaliza.
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