Por Lilian Christine
Várias pesquisas científicas ao longo do anos têm comprovado que pensamentos negativos como pessimismo, raiva, ira, tristeza, rancor entre outros podem sim nos trazer sérios problemas de saúde, inclusive doenças cardiovasculares e mais recentemente como descoberto o Mal de Alzheimer.
Essa foi a constatação da pesquisa da Universidade College London publicada dia 7 de junho deste ano na revista científica Alzheimer & Dementi: Pensamentos negativos frequentes podem aumentar o risco de Alzheimer.
A neurologista do Hospital Badim Camila Pupe define que esses sentimentos negativos ativam no cérebro um sistema chamado de cérebro inferior, que é considerado o mais primitivo e que por sua vez estimula comportamentos chamados de Triplo F, em inglês.
“Na resposta que chamamos de freeze, a pessoa não tem nenhum tipo de reação e, como o próprio nome sugere, ela fica congelada. Outra resposta, que conhecemos como flight, provoca medo no paciente, então, a tendência dessa reação é a fuga; ou ainda tem o paciente que desenvolve a reação de luta, que chamamos de fight”, explica a neurologista.
Como esses sentimentos agem no cérebro?
Camila explica que quando o cérebro inferior está muito ativo, ele bloqueia o telencéfalo, que é o responsável pelas conexões, raciocínios. É o córtex superior do cérebro, que produz as elaborações mais racionais sobre a situação em que o indivíduo está contextualizado.
“Por isso que, nesses casos, muitas vezes o indivíduo não consegue impedir uma conduta mais impulsiva ou agressiva, não consegue racionalizar sobre a situação”, explica.
A excessiva carga de pensamentos negativos irá gerar muitos neurotransmissores que vão bombardear o corpo com a informação e a leitura de desconforto, raiva e toda sorte de emoções subjugadas como negativas.
O psicólogo Paulo Victor Santos explica que os pensamentos negativos afetam o emocional e o corpo, durando até 24h no organismo.
"Os pensamentos negativos geram desconforto mental constante para o indivíduo e, consequentemente, ele vai somatizar doenças relacionadas ao estresse emocional e muitas vezes à falta de preparo para lidar com as próprias emoções", diz o psicólogo Paulo.
Paulo que atua na Campanha “A Vida Não Para”, do Crematório e Cemitério da Penitência (em parceria com o grupo Amigos Solidários na Dor do Luto RJ) lembra que para a ciência, pessoas com tendência ao pensamento negativo podem estar vivenciando algum tipo de transtorno psicológico ou até mesmo replicando atitudes e pensamentos negativos por muito tempo.
“Essas pessoas ficam repetindo incessantemente o padrão psíquico e dessa forma, não gerenciam mudanças para elaborar suas emoções e viver com mais assertividade e segurança sobre si mesmo”, conclui o médico explicando que no projeto, as pessoas buscam entender essas emoções negativas diante da perda.
E acrescenta:
“Nesse processo de busca de entendimento das emoções, as pessoas lutam contra si mesmas diante da dor e somatização de suas emoções negativas no corpo, podendo gerar transtornos de ansiedade e depressão em diversas instâncias”, explica.
Sueli Costa (o nome foi trocado para preservar a identidade) de 39 anos é administradora de empresas e empresária atuante no mercado digital. Sueli conta que sempre foi muito estressada e que ao longo de toda a sua vida seu corpo reagiu a situações extremas com sangramentos de escape e crises de dor de cabeça.
Há três anos, quando começou a trabalhar no mercado digital, a empresária foi construindo uma rotina ininterrupta de trabalho gerada pela grande demanda aliada à satisfação pelo trabalho.
“Eu trabalhava de domingo a domingo e ficava muito irritada com partes do processo que não estavam sob meu domínio e dependia de outras pessoas. Só que esse sentimento de raiva foi ficando insustentável e isso foi se refletindo na minha saúde. Eu tive uma inflamação no tecido mamário diretamente causada pelo estresse”, lembra.
Sueli conta ainda que após uma série de exames os médicos constataram que havia sim uma inflamação que só poderia ter sido causada por estresse ou por pancada local.
“Como eu não havia batido, eles chegaram à conclusão de que a causa era estresse. Tomei medicação e mudei o meu estilo de vida. Fiz tratamento com mastologista e repensei minha rotina e a forma de lidar com os problemas”, explica a empresária que hoje faz exercícios físicos moderados e dedica um dia à caridade como formas de aliviar a raiva e estresse.
Qual a melhor forma de tratamento?
Para a neurologista Camila, a terapia cognitiva comportamental tem sido uma forma de tratamento muito aplicada nos pacientes, além da meditação, principalmente de mindfulness, que é o exercício de se concentrar no momento presente, mantendo uma constante consciência do agora, sem julgar os acontecimentos, mas sim aceitá-los e abraçá-los.
“Com as terapias farmacológicas conseguimos diminuir a reatividade do indivíduo, quando ele está muito relacionado ao transtorno ansioso ou depressivo, usando algumas drogas inibidoras da recaptação de serotonina. Esses são alguns caminhos que temos de tratar o paciente que apresenta maior reatividade a esses sentimentos”, explica Camila.
Para Paulo não existe uma fórmula pré-determinada para este tipo de sentimento interno e muitas vezes é preciso que o indivíduo observe a si mesmo e suas atitudes a fim de elaborar maneiras para enfrentar essas emoções negativas.
“Com prática e continuidade, a sensação de bem estar consigo virá. Porém, nos casos de transtornos psicológicos, será preciso o acompanhamento da psicoterapia e, se necessário, da psiquiatria, para o trabalho em conjunto do restabelecimento deste indivíduo. Tendo em vista que este sujeito pode não estar dando conta de gerenciar sozinho as suas emoções”, finaliza.
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