Filosofia milenar ensina um conjunto de disciplinas morais que toda pessoa deve observar para manter a integridade mental
Por Redação Entre Asanas @entreasanas
Pode parecer uma ironia, mas uma das principais metas da prática de Yoga é, justamente, o isolamento (Kaivalya), estado alcançado a custa de uma determinação mental contínua e muito discernimento (viveka). Mas a condição de isolamento imposta pela Covid-19 é diferente, e as estatísticas já indicam que há uma verdadeira crise de saúde mental se instalando na sociedade.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o mundo entrará na maior crise desde quebra do bolsa americana em 1929, e relatório recém publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indica um número crescente de pessoas que estão atormentadas com o isolamento físico, sendo que muitas temem infecções, morte e perdas familiares. Ou seja, milhões de pessoas estão enfrentando problemas de saúde ou correm o risco de perder seus rendimentos e sustentos, o que a longo prazo pode representar um risco de retrocesso para humanidade.
"O isolamento, o medo, a incerteza, o caos econômico – todos eles causam ou podem causar sofrimento psicológico"
Para todo problema, uma solução
Em uma situação de adversidade devemos agir com sabedoria (vidya), de modo a racionalizar as circunstâncias e manter o equilíbrio para tomar decisões. Na doutrina do Yoga esse termo expressa a habilidade de fazer, ou seja, perceber o que deve ser feito e proceder sem, necessariamente, pensar a respeito. Em contrapartida, também identifica certos hábitos e comportamentos que são afetados pela falta de sabedoria (avidya), os quais comprometem o desenvolvimento pessoal, inibem as virtudes do ser e causam toda sorte de sofrimento.
Esta semana a redação do Entra Asanas traz um resumo de alguns conceitos que fundamentam o comportamento ético e moral do praticante de Yoga, e que podem ser bastante úteis para qualquer pessoa desenvolver uma disciplina de auto-controle no seu dia-a-dia durante a pandemia:
Yamas - Domínio sobre o que NÃO devemos fazer
1) Não-violência (Ahimsa): essa é premissa indelével para iniciar qualquer processo de auto-conhecimento, e influencia diretamente os outros quatro conceitos seguintes. Não praticar violência implica o pensamento, a fala, e a ação. E aplica-se na relação com outros e consigo. Basta lembrar o velho ditado "não faça com os outros o que não queres para si".
2) Veracidade (Satya): diante de qualquer situação, favorável ou desfavorável, ações, palavras e pensamentos devem estar estritamente alinhados com a verdade. A pessoa deve evitar qualquer contexto que favoreça a falsidade, e estar sempre sentinela para não faltar com o próximo nem consigo mesma.
3) Apropriação indevida (Asteya): aplica-se a itens materiais e itens não tangíveis. A pessoa deve ter consciência do valor das coisas, bem como a noção sincera de desapego para não praticar a cobiça e inveja, bem como não apropriar-se de qualquer ideia ou sentimento de terceiros.
4) Abstenção dos prazeres (brahmacaria): significa não deixar-se degradar ou perverter, não só sexualmente, mas também no que tange a essência das relações consigo e com outros. A pessoa deve buscar o sentimento natural, sem corromper seu significado, e abstendo-se de prazeres supérfluos. O amor verdadeiro desvia os intentos da malícia e do apego.
5) Desapego (aparigraha): renunciando as convenções, o indivíduo se desapega das feições do ego e torna-se mais generoso. A pessoa deve buscar o equilíbrio entre a posse desvinculada e o simples gozo da vivência. Aplica-se ao apego em objetos e relações pessoais. A ideia é aproveitar de bom grado a presença, e aceitar naturalmente a ausência.
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6) Aplicar-se a limpeza (Saucha): este conceito trata da purificação e da manutenção do ambiente físico e mental. O corpo é nosso tempo, então devemos estabelecer rotinas de limpeza e cuidados com alimentação. No plano mental, a mesma coisa. A pessoa deve processar e eliminar pensamentos impuros e distrações. E também deve manter o ambiente em que reside em boas condições.
7) Cultivar o contentamento (Santosha): independente das circunstâncias, a pessoa precisa desenvolver o senso de felicidade incondicional. O sacrifício da renúncia aos prazeres e a determinação em sustentar a disciplina dos próprios atos, confere ao indivíduo o grande prêmio da satisfação desapegada de espaço e tempo. É preciso uma mudança simples de mindset para enxergar o outro lado da moeda.
8) Desenvolver a austeridade (Tapas): este conceito trata de um reflexo da fé; a força de vontade. A pessoa deve demonstrar sua determinação e obstinação com o seu propósito para livrar-se de inquietações da mente e distrações habituais. É necessário estabelecer uma disciplina de prática do que se enxerga e sustentar um esforço concentrado.
9) Conhecer a si mesmo (Svadhyaya): envolve o conhecimento sobre o que existe dentro e fora de si. Através do estudo e da compreensão do mundo, suas forças e interações, e do entendimento da sua própria natureza individual. A pessoa deve experimenta-se e aprender para evoluir. O discernimento é a chave do processo, que envolve a mente, o ego e o intelecto.
10) Reconhecer o ideal (Isvarapranidhana): aqui o individuo vivencia sua singularidade. Ao percorrer um caminho de virtudes, a pessoa encontra o inevitável: a si em tudo. Isvara, no Yoga, é a representação do divino contido em cada ser vivo, com o qual desenvolvemos uma relação de cumplicidade. A sustentação dessa conexão e do estado de discernimento leva ao desapego total, promovendo a união com a consciência universal.
Namastê!
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