Técnica de autoconhecimento e meditação ajuda as pessoas a lidarem melhor com o sofrimento psicológico, proporcionando mais serenidade e equilíbrio
Por Lilian Christine
Vipassana é uma prática milenar de meditação que começou a ser ensinada na Índia a partir de 1969 por Satya Narayan Goenka, o mais importante professor de meditação Vipassana de nossos tempos.
A prática envolve um autoconhecimento para enxergar as situações como elas realmente são e dessa forma encontrar a libertação dos sofrimentos e das impurezas da mente.
A professora de Vipassana Macarena Infante, responsável pelo Centro Dhamma Sarana de São Paulo, explica que Vipassana significa ver da maneira adequada. E complementa que é uma técnica de meditação muito antiga redescoberta por Gautama Buda que a praticou por cerca de 7 anos, com privações, jejuns e mortificações para atingir estados meditativos.
“O Buda se sentia insatisfeito e percebeu que embora tivesse alcançado paz pela meditação, quando saísse daquele estado, as contaminações mentais apareceriam. Desse modo, ele pensou que a privação não levaria à liberação e viu que deveria seguir um caminho do meio e incorporar a observação das sensações corporais”, explica a professora.
Tempos depois a técnica foi ensinada a milhares de alunos por SN Goenka que realizou o programa de 10 dias de meditação necessários para o Vipassana. A prática oferece instruções passo a passo, para que o aluno possa experimentar e se adaptar progressivamente ao curso que diariamente começa às 4h30 e termina às 21h com intervalos, palestras explicativas, refeições e intervalos.
“Depois de fazer um primeiro curso, o aluno já é considerado um aluno idoso e pode fazer outros cursos como os de um a três dias. Existem também cursos para alunos mais avançados como o curso Satipatthana Sutta que tem duração de 8 dias, em que o aluno estuda o sermão de atenção e meditação. Este curso pode ser frequentado por alunos que tenham feito pelo menos 3 cursos de 10 dias”, explica a professora.
Há também os cursos mais longos, indicados para alunos mais experientes que podem ter 20,30,45 e 60 dias.
Existem também cursos para presos dentro de presídios, para adolescentes e crianças, para executivos e inclusive programas de meditação voltados para escolas (Programa Mitra).
Onde e como praticar Vipassana
Atualmente existem centros de meditação Vipassana em diferentes lugares do mundo e no Brasil, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. O primeiro centro de Vipassana da América Latina está localizado no município Engenheiro Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, o Dhamma Santi (que significa Paz do Dhamma, em páli, uma língua indiana).
Qualquer pessoa pode praticar Vipassana independente da sua idade, raça, gênero, condição financeira ou religião. O importante é ter disciplina pois o curso todo é feito em silêncio, sendo portanto permitido falar com o instrutor e com o gerente sobre alguma necessidade ou assunto particular.
Como fazer?
Para fazer a prática é necessário apenas se inscrever em um dos centros e ter muita disciplina e força de vontade para seguir as diretrizes do curso que inclui evitar intoxicantes, ter relações sexuais durante o curso, mentir e é claro um preceito que serve para todo e qualquer ser humano levar por toda a vida que é não matar.
A prática só não é recomendada para pessoas com sérios problemas psiquiátricos pois eles não podem abandonar o tratamento médico e as medicações indicadas. A Vipassana ajuda as pessoas a lidarem melhor com o sofrimento psicológico trazido por exemplo por uma doença, mas ela não substitui o tratamento adequado para ela.
O aluno não precisa pagar nenhuma taxa para se inscrever. Apenas quando ele terminar o curso, caso ele deseje poderá fazer uma doação e contribuir para que outras pessoas se beneficiem da prática em um gesto totalmente altruístico.
“Sim, esses cursos são financiados exclusivamente por ex-alunos que vivenciaram a prática Vipassana e que, gratos pelo que receberam e pelos benefícios alcançados, querem doar para que outros também possam se beneficiar. Ou seja, quando um aluno chega a um curso, o curso já é financiado por outra pessoa”, explica a professora Macarena lembrando que só alunos que já fizeram o curso é que podem ajudar com doações.
A professora reforça que pessoas sem recursos financeiros podem fazer o curso ou até mesmo ajudar em alguma atividade, doando seu tempo e suas habilidades em prol da felicidade e bem estar de outros.
“Vipassana é se beneficiar da meditação. Isso ajuda a dissolver o ego, pois a atenção está em beneficiar os outros e servir de forma altruísta, o que produz grande alegria interior. Vipassana erradica a raiz do sofrimento, é uma alegria inestimável. Então, como você poderia colocar um valor no dinheiro para os cursos?” indaga.
Essa é a sensação de Natália Vizcarra que há 13 anos pratica Vipassana. Natália conta que o primeiro curso de Vipassana foi feito em novembro de 2007 em Ibiza através de um conhecido, o que mudou para sempre a sua vida e seu modo de entender o mundo e a si mesma. Natália estava em uma viagem na busca de autoconhecimento pois se sentia muito triste e com negatividade, mesmo tendo uma boa vida, o carinho dos pais,ela achava que era impossível sair daquela situação de tristeza.
Dhamma Santi, no município Engenheiro Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro
“Em novembro de 2007 eu fiz o curso e tudo começou a acontecer de uma forma diferente. Nos três primeiros dias, a gente aprende a técnica de respiração anapana e com isso já comecei a sentir a mudança interior e no quarto dia comecei a aprender a Vipassana, quando nossa mente já está mais tranquila”, lembra, contando que saiu do curso maravilhada com a experiência que a levou a praticar em outros países também como no Uruguai, ao lado de sua mãe, que também se interessou pela prática.
Natália também teve a oportunidade de viajar para a Índia em 2009 e conhecer o professor SN Goenka e participar de um curso de meditação de 15 dias chamado teacher self course.
Macarena afirma que se a pessoa se mantiver firme na prática de meditação durante toda a vida, os benefícios são inúmeros. A professora explica que a mente fica purificada da negatividade em seu nível mais profundo, no nível da raiz das impurezas.
“Com uma prática sustentada e vivendo uma vida correta e ética, uma mente condicionada muda, torna-se mais positiva. A pessoa pode se tornar melhor e útil para a sociedade. Uma pessoa que ajuda os outros, que está cheia da verdadeira paz e alegria” explica.
Atualmente, o centro Dhamma Santi pode acomodar até 100 alunos no total e desde 2012 conta com salas de meditação individuais.
Dhamma Sarana, no estado de São Paulo, em Santana da Parnaíba
“Esses centros de meditação são locais especialmente projetados para a prática Vipassana, com condições ideais para realizar uma introspecção profunda e em seguida, avançar ao longo deste caminho que leva o ser humano das trevas à luz, do sofrimento para a felicidade”, conclui a professora.
Lembrando que durante a pandemia, as atividades presenciais estão suspensas nos Centros de Meditação.
Fontes: https://br.dhamma.org/pt-br/referencias/o-que-e-vipassana/
santi@dhamma.org
sarana@dhamma.org
instagram: @vipassanabrasil
facebook: vipassana.brasil
Para saber mais
Vídeos:
https://vimeo.com/dipa/ilhadesilencio. O documentário “Ilha de Silêncio” nos convida a conhecer, como é a vivência de um curso de meditação com 18 detentos em uma prisão de segurança máxima que em agosto de 2018 recebeu o primeiro curso de meditação Vipassana
Livro:
"Meditação Vipassana: A arte de viver segundo S.N.Goenka, do autor William Hart. Ed. Dhamma Livros.