Por Carolina Grimião
Construir um cenário propício ao aprendizado em tempos de pandemia. Após um ano de isolamento, como que os profissionais da área estão se vendo e – ainda – se recriando nos modelos remotos que surgiram? No Dia Mundial da Educação, profissionais refletem sobre os desafios e legados desses tempos.
Aulas remotas, ensino à distância, atividades online... um ano após a pandemia, os profissionais da Educação seguem se reinventando entre os mais variados cenários da nossa sociedade. Do Ensino Básico ao Superior, os desafios foram – e continuam sendo – inúmeros: do acesso dos alunos às redes até manter o foco e o interesse ao longo das aulas; da ajuda das famílias nas atividades até a autonomia do estudo individual; das novas ferramentas tecnológicas até as barreiras de quem não possui o básico do dia a dia.
Hoje, dia 28 de abril, é comemorado o Dia Mundial da Educação. A data foi estabelecida no ano 2000 por líderes de 164 países durante o Fórum Mundial de Educação, em Dakar, no Senegal, simbolizando o acordo entre as nações envolvidas. O principal objetivo do encontro era a construção de uma sociedade mais justa através da educação com a participação da família e com meta até 2030. O que ninguém contava era aparecer, no meio dessa proposta, um cenário pandêmico com a necessidade do isolamento social e da criação de outras formas de trabalhar a aprendizagem. Mais de um ano depois, cumprir essa meta tomou outras proporções.
Nos anos iniciais, por exemplo, a participação da família teve um peso fundamental. Se antes os pais podiam deixar as crianças nas escolas, com a nova realidade, eles precisaram estar junto delas no horário das aulas:
“Acredito que eles puderam experimentar um pouco das dificuldades vividas em sala de aula pelos professores e com isso espero que passem a colaborar mais com a educação”, torce Talita Stutz, professora da rede pública de ensino que atua há mais de dez anos com Educação Infantil em creches municipais do Rio de Janeiro.
Empatia também enfatizada pelo Especialista em Gestão e Educação Glauber Lobato:
“Muitas famílias possuem acesso limitado a tecnologia, não sabem bem como utilizar e possuem dificuldades em como dar o suporte adequado às crianças e adolescentes. Em tempos de pandemia, realizar o ensino de forma remota, tem sido bastante desafiador tanto para professores quanto para os alunos e seus responsáveis”.
Educação e Tecnologia
Falando em desafios tecnológicos, segundo a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Educação (CETIC) divulgada em 2019, apenas 44% das casas da zona rural brasileira têm acesso à internet, enquanto na área urbana 70% dos lares estão conectados. Para a professora Talita, o desafio foi tanto para alunos quanto para professores:]
“Sem dúvidas a informatização do ensino foi a maior dificuldade. Seja com relação a adaptação do formato online, equipamentos e programas que precisarmos dar conta, como também a nova forma de se relacionar através da tela sem deixar que o vínculo professor × aluno se perca”, reforça.
Por outro lado, de acordo com o INEP/MEC, o número de matrículas no Ensino Superior dobrou no sistema EAD no período entre 2008 e 2018, atingindo cerca de 1.3 milhão de alunos. Glauber atribui parte dessa procura e adesão as novas formas de se fazer a educação à distância:
“Os professores tiveram que se reinventar, pois o tradicional quadro negro deu lugar à sala virtual, as apostilas às câmeras, vídeos e edições divertidas, reforçando a importância de se repensar a educação e suas práticas pedagógicas”.
E explica também o quanto que essa movimentação pode ser benéfica para os novos tempos:
“O principal ganho é a inclusão de tecnologia e utilização de metodologias ativas no processo educacional. Se havia algum tipo de resistência, por parte de famílias, alunos, instituições e professores, a pandemia veio para deixar esses ‘medos’ de lado, possibilitando um grande avanço na educação”.
Perspectivas...
Com todos os múltiplos cenários educacionais e sociais no País é quase impossível saber o que esperar quando tudo isso passar. Apesar de muitas escolas já terem adotado o retorno presencial e realizar inúmeras tentativas de voltar ao “normal”, o ensino à distância ainda não pode ser descartado. Mas o que vai ficar daqui para frente? Como podemos visualizar o futuro da Educação com base no que temos hoje?
Um dos desafios, sem dúvidas, é a promover o acesso cada vez maior à população, tentando minimizar as barreiras da exclusão digital. Aproveitar datas para pensar os rumos da Educação do País e como ela se adapta às mudanças da sociedade é reforçar a posição que ela ocupa nos espaços:
“Ter uma data para “comemorar” o Dia Internacional da Educação é fundamental, pois valida a importância de se reconhecer a educação como papel fundamental no desenvolvendo das pessoas, reduzindo desigualdades e também estetizando políticas públicas”, defende Glauber.
A professora Talita acredita que toda essa turbulência também teve algo positivo:
“O ganho desse momento é também o seu legado. Acredito que o ensino híbrido será a nova realidade educacional, as redes de ensino se adaptaram e vão cada vez mais usufruir desses recursos tecnólogos para compor os meios educacionais”. E alerta: “Claro que são muitas intenções ao se educar uma população, mas não podemos esquecer a transformação social que podemos alcançar através da educação e propagação do conhecimento. Muitas notícias falsas foram divulgadas, mas é através da educação que vamos superando mitos e colaborando para o esclarecimento de todos”.
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