Mulheres que fazem a diferença
Por Ana Karina Talarico
Dados apresentados pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Internacional das Mulheres, em março desse ano, mostram que apesar do maior envolvimento das mulheres em funções públicas de tomada de decisão, a desigualdade continua: elas ocupam cerca de 21% dos cargos ministeriais em todo o mundo, apenas três países têm 50% ou mais mulheres no parlamento e 22 são chefiados por uma mulher. Ainda segundo a ONU, no atual ritmo de progresso, a igualdade de gênero não será alcançada entre as Chefias de Governo até 2150, daqui 130 anos.
Apesar disso, elas continuam firmes e mostram cada vez mais que, quando lideram conseguem transformam tudo que está a sua volta. E isso é visto não apenas quando estão em funções públicas, mas também à frente de projetos sociais. As mulheres se destacam quando o assunto é ajudar ao próximo e fazer a diferença.
E hoje, para exemplificar a força dessas mulheres, trazemos para vocês alguns exemplos de projetos sociais espalhados pelo Brasil liderados por mulheres. Histórias inspiradoras, que mostram o quanto querer é poder. Boa leitura!
São Paulo
Projetos espalhados pelo Alto Tietê
Gerir 10 projetos sociais é uma responsabilidade muito grande e é essa a missão da teóloga Fabiana Sousa. Ela está à frente da Associação Afro-Brasileira Nossa Senhora Aparecida, de Santa Isabel, São Paulo, desde 2012, e atualmente a entidade gere os seguintes espaços espalhados por cidades do Alto Tietê, região metropolitana de São Paulo: a casa de passagem municipal e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de Santa Isabel, a casa de passagem masculina Palmares, a casa de passagem feminina Dandara, a Residência Inclusiva Abaiomi com pessoas com deficiência e a instituição de longa permanência Casa Baobá, que atende idosos, todos em Mogi das Cruzes. Em Poá, as casas de passagem municipal feminina e masculino, e em Itaquaquecetuba, uma creche.
Todos esses trabalhos são desenvolvidos em parceria com o poder público e, além disso, a associação tem projetos próprios: como aulas de capoeira, atendimento social à população, palestras, distribuição de alimentos, entre outros.
Fabiana ainda desenvolve um trabalho específico com mulheres vítimas de violência em Santa Isabel. Segundo ela, têm muitas mulheres que passam por isso e às vezes falta orientação.
“Em alguns casos eu acompanho na delegacia para fazer o boletim, tentamos ainda ajudá-las com apoio, com projetos de geração de renda para que possam se livrar do agressor, uma vez que muitas são dependentes financeiras. Temos atendimento com assistente social, psicólogos, advogados. A gente faz todo esse encaminhamento”, conta.
Pode-se dizer que Fabiana é uma líder nata, que cresceu em um ambiente religioso, motivada pela questão de fé e cidadania.
“A associação é minha vida, sou teóloga de formação, mestre em teologia. Acordo pensando nos projetos e durmo pensando neles. Se não amar o social, o ser humano não tem como fazer parte do meu grupo”, afirma.
Para ela, todas as pessoas vieram a este mundo com uma missão.
“Eu acredito que a minha é dar voz a quem não é ouvido e não é visto. A minha maior gratificação a frente de tantos projetos é cumprir com maestria esta minha missão de vida, fazendo a diferença num ambiente tão hostil que é a sociedade. Cada vida que transformamos é motivo de comemoração. Aí ao lado de todas as minhas conquistas pessoais é isto que me faz uma mulher completa e realizada”, destaca.
A presidente da ONG conta que maioria das coordenadoras dos projetos da associação é mulher.
“Eu falo que são as minhas mulheres e sempre converso com elas que ‘estou dando na tua mão o meu sonho pra você cuidar", ressalta.
Para ajudar qualquer um dos projetos geridos pela Associação Afro-Brasileira Nossa Senhora Aparecida é só entrar em contato com a Fabiana pelo (11) 97226-1003.
A Casa Dandara
“A Casa Dandara era o que eu mais queria, por trabalhar com mulheres. Sonhei muito com ela e entreguei para Neuza. Ela cuida com maestria, muito amor e carinho do projeto”, destaca.
Neuza Aparecida de Oliveira é assistente social com pós-graduação em gestão e saúde pública. Foi a ela que a Fabiana confiou o comando de uma das instituições.
“Fabiana, além de ser presidente da Associação Afro é uma grande inspiração na realização do meu trabalho feito com mulheres. Como ela mesma costuma dizer ‘a Dandara é menina dos olhos dela’. Tenho muita gratidão, respeito e um carinho enorme por Fabiana e estou sempre busca de fazer um trabalho bem próximo do que ela faz. Amo ter essa mulher como a minha líder”, declara a coordenadora.
Essa é uma casa de passagem feminina, inaugurada em julho de 2019, em Mogi das Cruzes. Esse serviço integra a Proteção Social Especial de Alta Complexidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). E é claro que à frente de uma casa de mulheres teria uma grande mulher.
Neuza explica que a casa, com capacidade para atender 30 mulheres, tem como prerrogativa o atendimento integral que garanta condições de estadia, convívio, endereço de referência, para acolher com privacidade, respeitando costumes, tradições, grupo familiar, raça/etnia, identidade de gênero, orientação sexual e religião de pessoas em situação de rua e desabrigo por abandono, migração, ausência de residência ou pessoas em trânsito sem condições de autossustento, a fim de assegurar a autonomia, autoestima e fortalecimento de vínculo familiar.
Segundo a Neuza, a pandemia trouxe alguns desafios.
“O público que atendemos gosta de estar em liberdade total e ficar em casa para elas por causa da pandemia é muito difícil. Tivemos que nos reinventar para conseguir mantê-las um pouco mais seguras”, explica.
Hoje a maior felicidade da coordenadora é ver o resultado do trabalho em cada sorriso, no retorno familiar, na ida para vida independente, no convívio com a sociedade.
“Uma das coisas que nos enche de esperança é quando enviamos o currículo delas para uma vaga de trabalho e elas são chamadas para trabalhar. São tantas alegrias que não dá para citar todas”, relata.
Voluntariado
Como todo projeto social, o espaço conta com voluntárias e a Vanessa Sasai é uma delas. Psicanalista de formação, ela também atua como coach, esteticista e terapeuta.
“Eu admiro muito o trabalho da Neuza. Minha intenção é ajudar essas mulheres com minhas terapias. O objetivo é curar seus traumas, trazer de volta a autoestima, resgatando a vida delas. A casa Dandara tem muito amor, carinho e está dentro dessa missão. Quero poder ajudar cada vez mais naquilo que elas precisam”, destaca.
Se você se interessou e quer conhecer mais sobre o projeto é só entrar em contato pelo e-mail associacaoadrodandara@emael.com ou pelo telefone (11) 2378-8820.
Minas Gerais
A luta pela urbanização numa comunidade em BH
Você já ouviu falar da Comunidade Izidora, que fica na Região Norte de Belo Horizonte? É lá que vive a líder comunitária Paula Cristina Fonseca da Silva, a Paulinha, como é conhecida. Ela chegou na comunidade no final de 2014 e luta para melhorar as condições de vida das famílias. Para isso, conta com a ajuda da amiga conhecida como Lu, a Nilce Helena de Paula.
O sonho dos moradores é conquistar a regularização da área para que a comunidade seja respeitada e organizada.
“Hoje somos cerca de 9 mil famílias, 20 mil pessoas, divididas em quatro comunidades dentro da Izidora. São elas: Rosa Leão (2000 mil), Esperança (2500 mil), Elena Greco (2000 mil) e Vitória (4500 mil), onde moro. Queremos que todos tenham trabalho e uma vida digna, e as crianças uma escola decente”, desabafa Paulinha.
A comunidade não tem infraestrutura e passa por várias dificuldades.
“Muitas famílias estão passando fome, não têm água, luz e nem comida. Tudo que elas precisam, me procuram e eu tento ajudar como eu posso. A gente conta com doações de alimentos, roupas, eu separo tudo e vou distribuindo. Mas muitas vezes não tem cestas para todo mundo. Então muitas voltam para casa sem comida. As pessoas falam que não existe fome, quem dera que não existisse”, diz.
Paulinha e outras lideranças querem transformar a comunidade em algo sustentável.
“Eu gostaria que a gente usasse a luz solar, que a água fosse consumida por poço artesiano porque tem muitas nascentes, que aqui tivesse calçamento. Uma conquista é nossa horta comunitária. Dela, algumas famílias tiram seu sustento. As hortaliças são vendidas a preço de custo para quem mora aqui e parte da produção é vendida para fora a preço de mercado”, conta.
Liderar é algo nato para Paulinha.
“Eu falo que eu não escolhi ser líder, eu fui escolhida, por sempre ajudar as pessoas. Eu acabo fazendo tudo dentro da comunidade. O papel de prefeita, de juíza, advogada”, afirma.
No momento, as pessoas podem colaborar com a comunidade apoiando os projetos que a gente tem, doando alimentos, roupas, o que tiver. Porque muita gente está passando fome. As doações podem ser feitas pelo pix 07521980689 ou pessoalmente na rua Itaocara, 151, Cachoeirinha, e rua Canadá, 151, Baronesa, em Belo Horizonte.
“A Paulinha me estendeu a mão”
Catarina Lourenço Pereira tem 35 anos e é mãe de 6 filhos. Quando ela, os filhos e sobrinho chegaram à ocupação foi a Paulinha quem lhes estendeu a mão.
“Ela mostrou ser uma líder que se preocupa com o próximo, que está ali para resolver qualquer problema. Quando eu cheguei, senti segurança num lugar onde não conhecia ninguém. Ela é uma líder sem palavras. É uma pessoa que se preocupa com o próximo, sem olhar cor, raça. Eu nunca tinha visto uma pessoa com esse dom de ajudar ao próximo”, completa.
Em paralelo: A busca pelo espaço também no mundo corporativo
Assim como elas estão à frente de projetos sociais, as mulheres também têm se destacado no mundo corporativo. Estudos dos últimos anos apontam a ascensão das mulheres na vida profissional. De acordo com o McKinsey Study, companhias com mais mulheres na liderança veem um resultado operacional 48% maior e uma força de crescimento no faturamento 70% maior.
Outro dado, apresentado pela Organização Internacional do Trabalho, mostra que empresas que monitoram o impacto da diversidade de gênero na liderança apontam crescimento de 5% a 20% nos lucros. Apesar disso, estudos revelam que, no Brasil, somente 3% de mulheres ocupam cargos de liderança nas empresas.
Mas uma pesquisa realizada na última edição da International Business Report (IBR) — Women in Business 2019, no Brasil, mostra que esses números têm melhorado de forma gradativa. Comparando os anos de 2018 e 2019, o percentual de empresas com pelo menos uma mulher em cargos de liderança foi de 93% em 2019, sendo uma grande evolução em relação aos 61% em 2018.
A partir de todos esses levantamentos pode-se dizer que aos poucos as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço, em todos os setores, mas ainda tem um caminho muito longo a ser trilhado. O importante é não desistir nunca. Histórias inspiradoras como as que pudemos conhecer nessa matéria mostram o quanto as mulheres são fortes e podem sim fazer a diferença na sociedade.
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