Em época de ansiedades e aflições, a meditação do yoga proporciona alívio e serenidade para tempos desafiadores
Por Mônica Kikuti
@monicakikuti
Transformação talvez seja algo recorrente para descrever, em uma palavra, o yoga. Numa época de pandemia, na qual as incertezas são constância, o medo não parece passageiro e a ansiedade está nas alturas, a meditação e o yoga trazem um bálsamo para tempos desafiadores. Aliás, para todos os tempos, desde os primórdios da prática, onde acalma, tranquiliza, calça nossos pés – sobretudo a mente – no momento presente.
Ao descobrir o yoga, Márcio Filipe Marinho Bittencourt, 37, não só se tornou um praticante, mas mudou de profissão: deixou a carreira numa startup, onde trabalhava na área de trade marketing, e virou professor de yoga. A prática lhe trouxe muita transformação.
“Já nos primeiros meses, comecei a lidar melhor com minha ansiedade. Logo de cara, senti uma melhora muito grande, não necessariamente dos sintomas, mas eu tinha ferramentas para lidar melhor com eles (sintomas)”, revela.
Com a pandemia, onde muitas pessoas estão ansiosas e apreensivas, Bittencourt vê na yoga e meditação uma prática de suma importância.
“A pandemia nos estimula a sair do presente, a fazer projeções, a temer contrair um vírus, temer que pessoas que a gente goste o contraia ou tenha sintomas graves e até mesmo percam a vida. Estas projeções geram reações químicas no nosso corpo relacionadas ao estresse. O yoga, ao contrário, estimula este retorno ao aqui e agora, ao momento presente. Além disto tem as posturas que trabalham força, flexibilidade, equilíbrio. Corpo e mente formam um sistema só. Uma mente saudável, dificilmente, vai acompanhar um corpo sedentário, adoecido. E o inverso também ocorre. Uma mente adoecida, dificilmente, vai estar em um corpo saudável. O yoga estimula este equilíbrio e atenção”,
O professor também afirma que o contentamento, independentemente da situação, tem de ser mantido na vida.
“Um dos pilares da filosofia do yoga, que a meu ver é importante neste momento, é o contentamento. O yoga nos estimula a encontrarmos o contentamento. Não o forçado, o dogmático. Mas de encontrar, dentro da forma como você enxerga a realidade, dentro da sua lógica, motivos para se contentar. É diferente de se conformar. Fazendo uma análise distanciada, de cima, macro, talvez você tenha motivos para se contentar. Isto traz paz, equilíbrio. Você sempre pode melhorar sua qualidade de vida”, ensina.
Belezas da vida
Também professora de yoga, Isabela Betine Guilen Lopes, elenca as benesses da prática, que também lhe trouxe uma mudança de vida. Em sua opinião, é uma prática essencial, não só na pandemia.
“O yoga não trabalha só o corpo físico, mas também trabalha o corpo emocional, o psicoemocional. Ajuda muito no controle da ansiedade ou para quem está deprimido, porque a gente passa a tomar mais consciência dos nossos pensamentos, trazendo mais calma e clareza mental. Ajuda energeticamente”, comenta Isabela.
Formada em Relações Internacionais e sempre envolvida em projetos sociais, Isabela teve uma reviravolta na vida ao ser demitida de um emprego. Com muitos questionamentos internos, deixou São Paulo, junto com o namorado (que agora é marido), e foi de mala e cuia para o Rio Grande do Sul.
“Nesta transição, a única coisa que eu sentia prazer e fazia um sentido era o yoga. Resolvi fazer o curso em Santa Catarina. Eu não pretendia virar professora de yoga. Eu gostava muito desta parte de meditação e da filosofia do yoga, achei incrível e pensei: ‘quero mergulhar neste universo’”.
E, de fato, ela mergulhou: há quase dois anos e meio dá aula de yoga e não se vê mais fazendo outra coisa.
“Gosto muito da parte do conhecimento do yoga, que me proporciona como filosofia de vida, muito além dos asanas (as posturas de yoga), porque eles são instrumentos para que a gente entre em contato com o nosso corpo e, através do nosso corpo, a gente entre em contato com nosso universo interior. Esta, pra mim, é uma grande transformação do yoga na nossa vida”, expõe.
Conforme a professora reforça, esta “imersão” para o nosso interior também é uma oportunidade de transformação e de autoconhecimento.
“O yoga permite poder se olhar, se observar, ter esta oportunidade de estar em contato consigo mesmo e apreciar as belezas da vida. Quando a gente está neste mundo mais automático, a gente não vive as coisas mais simples, não consegue apreciar, até pelas coisas que o mundo nos demanda. O yoga também permite o questionamento: onde entra o seu propósito de vida? Pra que você está aqui nesta vida: só pra trabalhar e comer, ter uma casa pra morar? Será que não tem algo além disto? O yoga, pra mim é algo muito profundo, que mexe com as nossas estruturas, questiona o que a gente veio fazer aqui. Não que tenha algo grandioso pra fazer, mas viver a vida de forma inteira e real.”
Da luva para o tapetinho
Gestora de qualidade, Tatiane Ferreira, 41, é daquelas pessoas bem agitadas, elétricas. Na pandemia, descobriu, despretensiosamente, o yoga quando estava na academia durante nas aulas de muay thai, onde via uma forma de descarregar a energia acumulada.
“Logo após o muay thai, tinha aula de yoga. Então, todos os dias eu acompanhava um pouco e pensava: ‘como uma pessoa pode ficar nesta tranquilidade, nesta serenidade, com esta música?’ Aquilo era muito estranho pra mim”, conta, entre risos.
Mas, o que até então era esquisito foi um propulsor para a curiosidade e ela resolveu fazer uma aula de yoga.
“No primeiro dia me irritou completamente. No segundo, começou a transformação. A música e os movimentos são muito sincronizados. E eu comecei a querer me superar, me alongar, me conectar, me concentrar. Era completamente diferente de tudo o que eu já tinha feito” diz ela, que mora na Zona Leste de São Paulo."
Como as academias estão fechadas, Tatiane não está nem lutando nem praticando o yoga.
“Não vejo a hora de voltar, sabe. O yoga me deixou mais leve, tranquila. A professora falava muito da respiração e este aprendizado eu levo para o meu dia a dia. Hoje eu paro, respiro e me concentro”, declara a gestora de qualidade.
Em equilíbrio na pandemia
Praticante de yoga desde 2019, Renata Leal Bastos Fortes, 46, moradora de Campo Grande, no Rio de Janeiro, conta que o yoga tem lhe ajudado, e muito, nesta pandemia. Revela não ter sentido medo e, tampouco, ansiedade por momentos que poderiam gerar instabilidade emocional.
“Eu vejo essa prática como essencial, não só neste momento de pandemia. Acredito que estamos entendendo melhor o real valor (do yoga), pois está ajudando a focar mais em nós, em nosso equilíbrio, ajudando na ansiedade e no medo. Posso dizer, por experiência própria, que não tive medo de ficar doente, não senti ansiedade e nem fiquei triste pela falta de sair de casa. E ainda dei mais valor às coisas simples da vida como contemplar a natureza e estar junto de quem amamos”, declara Renata, reforçando a questão de melhora no equilibro mental e capacidade de concentração.
Aliás, desde que se rendeu ao yoga, tudo mudou em sua vida, principalmente, com relação ao autocuidado.
“A transformação foi bastante significativa, comecei a me cuidar, a me auto observar, despertando ainda mais a vontade de aprender pra poder ensinar. Estou estudando e, em princípio, a vontade é de ensinar crianças, pois acredito que se aprendêssemos o quanto antes, nossa vida seria muito mais fácil e agradável. Também quero ensinar aos idosos que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer e desfrutar dessa técnica tão maravilhosa”, finaliza.
A redação do Entre Asanas separou 6 dicas para você colocar em prática. São técnicas simples que vão ajudar a controlar as movimentações mentais, e vão ajudar a manter a tranquilidade na hora de enfrentar qualquer desafio.
1. Respire corretamente: É importante saber respirar, reconhecendo cada etapa do ciclo (inspiração, retenção; expiração, retenção) e cada região do corpo onde ela acontece (diafragmática, peitoral, clavicular). Saber respirar significa controlar a bioenergia do corpo e o sistema nervoso. Então é fundamental respirar corretamente para acalmar os pensamentos e desenvolver a serenidade.
2. Mantenha-se fisicamente ativo: Nesse caso a mente pode ser o principal inimigo, principalmente durante uma situação inusitada e adversa. A disciplina é fundamental. O espectro de atividades está limitado, mas com um pouco de criatividade e muita força de vontade, é possível desenvolver diferentes rotinas de exercícios. Praticar Yoga é sempre a nossa dica padrão! Mas existem diversas formas de manter o corpo ativo, lembrando de respeitar os seus limites.
3. Estude: Em momentos de crise surgem, ou são criadas, as oportunidades. E hoje temos a Internet com acesso a diversas fontes confiáveis de pesquisas e livros para nos libertar de todo sofrimento (ignorância). Existem centenas de ofertas de cursos e workshops online. Sem falar nos terabytes de material técnico, documentos, artigos científicos e toda sorte de conteúdo especializado para você descobrir e desenvolver novas aptidões. Então, estude.
4. Pense na Vida: Filosofar não é, exatamente, um hábito para a maioria das pessoas. Pelo menos não oficialmente. Mas filosofar, ou questionar-se a respeito das coisas e do universo, é uma atividade muito revigorante e terapêutica. E como estamos todos isolados, talvez seja um bom momento para ficar só. Pois como disse o lendário cientista Nikola Tesla "Esteja sozinho, este é o segredo da invenção, estar sozinho, isto é quando as ideias nascem".
5. Seja Positivo: A física quântica um dia explicará os efeitos do pensamento positivo, de modo que não restará dúvidas de que somos capazes de criar ou destruir com o poder do pensamento e da fala. Então, mantenha as afirmações e atitudes positivas em seu dia a dia, e elimine toda e qualquer influência negativa, subtraindo certas palavras, e sendo diligente em suas ações.
6. Lembre-se do seu estado de felicidade: No Yoga, aprendemos que a libertação do ser humano o reconduz ao seu estado natural, a felicidade. Muitas vezes esquecemos das coisas que realmente nos trazem a sensação de satisfação mental. Então aproveite tudo isso para lembrar e reafirmar o que realmente te faz sentir feliz. É isso que realmente importa.
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